segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Indústrias de Franca atingem menor produção de calçados em 5 anos

As indústrias de calçados de Franca (SP) fecharam 2015 com o pior volume de produção nos últimos cinco anos. Foram 33 milhões de pares fabricados entre janeiro e dezembro, 11,05% menos que em 2014, quando as empresas atingiram a marca de 37,1 milhões.

Os números, divulgados pelo Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca) na última semana, associam a queda ao desaquecimento no mercado interno.

As exportações tiveram alta em quantidade de pares, mas não representaram elevação no faturamento, principalmente devido à desvalorização do calçado.

Como reflexo, as oportunidades de trabalho nas empresas atingiram seu pior patamar desde 2009.

Com 467 fábricas de sapato e 265 prestadores de serviço relacionados, Franca é um dos principais polos calçadistas do país. No ano passado, a cidade respondeu por 64% das exportações de sapatos e por 41% dos empregados no setor no Estado de São Paulo.

"Se estávamos no início de 2015 com uma economia se deteriorando e foi ruim, 2016 está pintando ser pior", afirma o presidente do Sindifranca, José Carlos Brigagão do Couto.

Queda de produção

Do total de 33 milhões de pares produzidos, 29,8 milhões - 90,3% de participação - foram direcionados a consumidores do país e resultaram em uma receita estimada em R$ 1,5 bilhão - cálculo feito com base na média de R$ 50 por par informada pelo Sindifranca.

Na comparação com 2014, a produção voltada ao mercado interno caiu 12,35% em pares e 11,76% em faturamento, diante de uma menor demanda principalmente ocasionada pela queda no poder de compra das famílias e pela instabilidade na economia.

As exportações, por outro lado, responderam por 9,7% do que foi fabricado no município paulista, com 3,195 milhões de pares. O volume, 5,7% maior do que em 2014, supera as expectativas iniciais do segmento, que chegou a prever 1,65% de sua produção para os importadores nas primeiras projeções feitas no começo do ano passado.

Os principais compradores do sapato de Franca foram Estados Unidos, Bolívia, Arábia Saudita e Emirados Árabes.

A alta, no entanto, não representou incremento nos ganhos. Quando analisado o valor total em dólares negociados, as indústrias fecharam 2015 em US$ 78,497 milhões, 6,17% a menos do que um ano antes - US$ 83,658 milhões.
Fato que o presidente do Sindifranca associa a fatores como a desvalorização de 11,25% no par do calçado, que caiu de US$ 27,68 para US$ 24,57.

Além disso, cita perdas na hora de negociar com os importadores - que pedem desconto ao saberem que o câmbio é vantajoso para a exportação brasileira -, na elevação dos insumos, muitos dos quais importados, e no aumento geral de custos do país.

"De repente aumenta em mais de 50% a energia elétrica. Acha que o pessoal lá fora vai aceitar o reajuste com esse preço? Eles não aceitam e a indústria tem que arcar com isso. (...) Quando o dólar sobe, quando não tem estabilidade do câmbio, o importador pede desconto, quer participar dessa suposta vantagem", explica Brigagão do Couto.

Menos emprego

A baixa na produção e nas vendas repercutiu diretamente em uma queda de 14,6% no número de empregados do setor calçadista em 2015.
Em dezembro do ano passado, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, o segmento empregava 17.739 pessoas, 3.023 a menos no comparativo com o mesmo período de 2014. A quantidade de postos de trabalho, que ajudou Franca triplicar as vagas fechadas, foi a mais baixa registrada desde 2009.

Isso não teria acontecido, na análise do representante do Sindifranca, se a maior parte das indústrias tivesse reservado parte de suas produções às exportações após a crise de 2008, quando o mercado interno, com a renda das famílias em ascensão, era mais vantajoso.

"Tem fábrica em Franca que está muito bem, porque exporta e produz para o mercado interno. Uma coisa compensou a outra. Aquelas que só ficaram no mercado interno reduziram drasticamente a produção, demitiram funcionários para poder adequar a empresa à atual situação", afirma.

Brigagão do Couto reconhece, no entanto, que desde aquela época faltaram estímulos públicos para que isso pudesse acontecer.
"Eu não acredito que essa reposição de mão de obra vai acontecer no primeiro trimestre, a não ser que o governo faça um milagre e todo mundo comece a comprar sapato."

Projeções

Diante de um mercado interno tido como incerto, os empresários colocam suas apostas em uma maior retomada das exportações.

De acordo com o Sindifranca, a expectativa é de que o volume de pares comercializados fora das fronteiras brasileiras cresça na faixa de 10% e chegue a 3,5 milhões.

Projeção baseada em iniciativas locais como um convênio em estudo com importadores chineses e em mudanças geopolíticas, como a sucessão presidencial na Argentina.

Porém, o bom desempenho do setor passa também pela estabilidade econômica, para que o faturamento acompanhe as mesmas expectativas.

"O governo tem que estabelecer políticas de exportação duradouras e sérias para incentivar as indústrias a exportar", afirma Brigagão do Couto.


Fonte: G1 Ribeirão e Franca

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