sexta-feira, 10 de junho de 2016

Corrupção no varejo?


Não existem estatísticas ou denúncias, mas o varejo alimentar é vítima e vilão da corrupção.Conversas confidenciais mostram que o setor enfrenta esse mal, que compromete a saúde do País e das empresas

Como e por que tanta corrupção 

Mal de que padece a humanidade, a corrupção é cometida pelo varejo por várias razões: a principal é a falta de um ambiente favorável aos negócios. sobra burocracia e faltam agilidade e leis de mercado mais flexíveis. e a máxima de que 'se os outros podem eu também posso' prevalece.

Após três anos esperando liberação de licença ambiental para construção de uma nova loja, o supermercadista decidiu buscar uma alternativa nada ortodoxa. Certo de que todos os documentos solicitados estavam em ordem e que as condições da área permitiam a construção, ele resolveu gratificar funcionários públicos que se dispusessem a dar uma mãozinha. Pouco tempo depois, a licença foi liberada e a obra pôde ser iniciada. O exemplo é de uma rede que preferiu não se identificar, mas quem não passou por algo parecido que atire a primeira pedra. Algumas vezes, a decisão de molhar a mão antecede as dificuldades. O empresário quer correr com a expansão ou não quer cumprir determinações legais de diferentes naturezas. Ele se nega, por exemplo, a cumprir normas trabalhistas ou de segurança alimentar, o que o conduz ao atalho institucionalizado da corrupção. Às vezes, para obter um empréstimo robusto, esse mesmo empresário suborna um gerente de banco, a fim de que eleve o teto de faturamento de sua empresa. Esse atalho, contudo, vem cobrando preços cada vez mais altos, de todos. "As pessoas costumam se sentir à vontade para pagar propinas ou sonegar taxas e impostos (porta de entrada para a corrupção), alegando que tudo que desembolsam não se traduz em melhores serviços públicos – da saúde à infraestrutura –", afirma Monica Gonçalves, gerente de compliance do ICTS Protiviti, consultoria de gestão em risco. Há empresários ainda que justificam a dificuldade de se manter na linha alegando que o Brasil não oferece um bom ambiente de negócios. Segundo eles, ao contrário do que acontece em países do primeiro mundo, aqui é difícil abrir e fechar uma operação; são solicitadas licenças e atestados em excesso; e o prazo para encaminhamento dos documentos se esgota rapidamente.

Análises mostram também que as normas e exigências legais são ainda bem menos flexíveis, o que prejudica a aprovação de diferentes demandas. Outro argumento comum para explicar os inevitáveis desvios é o comportamento da concorrência. Os outros sonegam e distribuem benefícios, logo, têm custos menores e preços melhores. Para enfrentá- los, só mesmo agindo da mesma forma. Não é à toa que pesquisa feita em 2014, nas universidades britânicas Birmingham e Strathclyde, revelou que um a cada 10 brasileiros pagou algum tipo de propina no último ano. No total, foram feitas 250 mil entrevistas em 119 países, sendo 1.500 no Brasil. Os obstáculos criados por governos e servidores são um fato, mas empresas e pessoas devem mesmo acreditar que a corrupção é a única saída para enfrentar as injustiças? Devem se eximir de responsabilidades e continuar atribuindo os males do País a terceiros? Essa postura constrói ou compromete o destino de todos? As respostas, sem dúvida, não são simples, nem devem ser utópicas. Mas o fato é que hoje existe a Lei 12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção. E existe também o desejo da sociedade de acabar com esse mal, ou pelo menos reduzi-lo a bases controláveis, como já fizeram muitos países. Basta observar as ações que vêm sendo movidas contra quadrilhas de todos os tipos – de médicos envolvidos com tráfico de órgãos a escolas públicas que desviam merenda, passando pelos grandes escândalos que envolvem políticos, empresários e órgãos ou instituições públicas. A Operação Lava Jato é um exemplo. Ou seja, a corrupção hoje é fortemente combatida e conta com lei e punições que passam por prisão, perda de bens e suspensão de atividades, entre outras medidas. Passam também por multas de 0,1% a 20% do faturamento bruto, ou de R$ 6 mil a R$ 60 milhões.

No varejo, uma das práticas ilícitas é a sonegação. Ela ocorre a partir de fraudes e de acordos com fornecedores e funcionários públicos. Uma das taxas sonegadas é a de importação, graças à manipulação de notas fiscais. As consequências dessa prática não são benéficas para a própria empresa. Fábio Haddad, gerente executivo de compliance do ICTS Protiviti, afirma que companhias corruptas costumam dar pouca importância para a eficiência operacional. "As vantagens obtidas se transformam em economia e quando os esquemas naufragam a empresa passa por dificuldades", diz. "A organização perde a oportunidade de construir um futuro sólido". Já a corrupção generalizada, envolvendo as várias pontas do sistema, interfere no alcance dos investimentos públicos e produtivos, o que também prejudica as empresas. Basta pensar nos investimentos em estradas, novas fábricas e CDs. É um mal que, sem combate, corrói instituições, economia e companhias.



As práticas mais comuns de corrupção no varejo alimentar do Brasil 
Segundo pesquisa feita em 2014 nas universidades britânicas birmingham e strathclyde, um a cada 10 brasileiros pagou alguma propina no último ano. A corrupção não envolve apenas políticos, mas está no dia a dia das empresas e dos cidadãos brasileiros

Sonegação de impostos
Mesmo com o cerco do Fisco, o mal persiste. É comum a sonegação a partir da falsificação de demonstrativos financeiros e de acordos com fornecedores envolvendo notas fiscais
Fraudes na importação 
Também envolvem notas fiscais, que são emitidas com valores inferiores ao da compra, para reduzir o valor de taxas. Também é comum acordos com fiscais aduaneiros para agilizar a liberação de mercadorias

Adulteração de dados
Informações fiscais, contábeis, financeiras e trabalhistas são adulteradas para que a empresa não cumpra suas obrigações. A manipulação de despesas e receitas também ocorre

Pagamento de propinas
É uma prática para, por exemplo, agilizar a emissão de licenças de abertura de lojas. Também acontece para impedir autuações por não cumprimento de leis e normas

Fraudes em aquisições
Fraudam-se os dados tributários a fim de estabelecer um preço melhor para a empresa que está à venda ou em processo de fusão

Suborno a terceiros
Gerentes de bancos são subornados para elevar o teto de faturamento das empresas a fim de se obter um empréstimo polpudo

Fontes: varejistas e consultores

Clique e saiba mais...

Fonte:http://www.sm.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário