terça-feira, 22 de dezembro de 2015

GPA Alimentar: lucro perdido?


A divisão do Grupo Pão de Açúcar sofre com pressão dos custos e baixo crescimento da receita. Mas já tem em curso um plano para chegar mais forte em 2016 


O GPA teve uma queda de 51% em seu lucro líquido na divisão alimentar entre janeiro e setembro deste ano, comparado a igual período de 2014. O recuo foi impactado pelo segmento Multivarejo, que inclui os formatos de proximidade e de super e hipermercados, cuja retração foi de 61% no período. Nem mesmo a alta de 32% do Assaí nesse indicador compensou a queda. A situação preocupa. Afinal, não é nada positivo reduzir os ganhos de uma companhia à metade de um ano para o outro. 

Para Celson Placido, estrategista chefe da XP Investimentos, é preciso lembrar que o atual momento econômico, com retração do consumo, impacta diretamente nesse resultado, pois impossibilita uma aceleração imediata das vendas. Por um lado, ele considera positivos os investimentos da companhia em melhorias de lojas e expansão para recuperar vendas. Mas, por outro, lembra que o Capex elevado (investimentos em lojas e infraestrutura) tem pressionado a lucratividade da empresa num momento em que a receita cresce abaixo das despesas. Já José Lupoli Jr., consultor de varejo, diz que a companhia está no caminho certo ao focar seus esforços nos segmentos de proximidade e cash & carry, que atendem as necessidades do consumidor neste momento. Para o GPA, contudo, não se pode resumir o resultado da divisão alimentar – nem de toda a companhia – a uma única linha do balanço. É preciso olhar indicadores da dívida, do caixa e como os recursos estão sendo aplicados. 

À SM a companhia informou que acredita estar fazendo a lição de casa investindo para crescer e controlando custos. Entre os executivos da empresa, há uma visão de que os ajustes promovidos farão com que a empresa comece 2016 em uma situação tão confortável quanto a que tinha no início de 2014.
Investir em melhorias e expansão é positivo, mas especialista alerta que Capex alto pressiona o lucro num momento em que receita cresce abaixo de despesas
  • -61% de queda no lucro líquido, excluindo o atacarejo
  • - 9% de recuo do ebitda ajustado do período*
  • - 1,3% na variação real da receita líquida na divisão alimentar**
  • 12% no aumento das despesas operacionais totais
Variações: janeiro a setembro 2015 sobre igual período de 2014
* Ebitda ajustado – exclui receitas e despesas extraordinárias
** Descontada inflação média do período de 8,56% pelo IPCA.
Fonte: Relatório de Resultados da Companhia do 3º Trimestre 2015


Lucro, ebtida e endividamento
A margem bruta de lucro não foi melhor, segundo especialistas, porque o GPA escolheu ser mais competitivo em preços. Em cada loja, a empresa tenta ser mais barata do que os concorrentes locais em 400 itens, e mais barata do que o cash & carry em outros 50 itens?
Nos nove primeiros meses do ano, a margem bruta de lucro do GPA Alimentar permaneceu em 24%, um ligeiro recuo de 0,4 ponto percentual sobre igual período de 2014. Já em valor, houve um crescimento de 5% no período. Na avaliação dos analistas, o indicador não foi melhor devido à política de competitividade, sobretudo na bandeira Extra. Isso impactou principalmente a divisão Multivarejo, na qual o aumento da margem em valor foi de apenas 2%. Para se ter uma ideia, são acompanhados os valores de 400 produtos nos quais a empresa procura ter preços melhores do que os concorrentes que atuam na mesma área de cada loja, além de 50 que são comparados aos do cash & carry. Mas essa tática pode mudar em itens que sofrem influência do dólar e naqueles que a companhia entende que o cliente aceita pagar mais pela conveniência ou experiência de compra.
Outro indicador com o qual o GPA afirma se sentir confortável é o Ebitda. Ele demonstra o quanto as empresas são capazes de gerar recursos por meio de suas atividades operacionais, sem contar impostos, amortização, etc. Em outras palavras, permite analisar o processo como um todo e não apenas o resultado financeiro. No GPA Alimentar, o Ebitda permanece positivo. O indicador ajustado – que exclui despesas e receitas extraordinárias – atingiu R$ 1,6 bilhão de janeiro a setembro deste ano. Mesmo com a queda de 9,1% no período, a empresa considera o valor estável diante da deterioração dos indicadores de consumo ao longo do ano. A exceção fica por conta do Assaí. A rede foi favorecida pela mudança de hábito dos consumidores, que têm privilegiado mais preço baixo. O cash & carry do Grupo elevou em 31% o Ebitda ajustado dos primeiros nove meses de 2015 devido principalmente à alta das vendas líquidas de 14,8%, descontada a inflação média do período (8,56%). A empresa também ressaltou à SM o fato de a companhia como um todo ter apresentado no final de setembro uma posição de caixa favorável, de R$ 5,4 bilhões, além de redução da dívida líquida e alongamento do prazo de pagamento. Esses esforços melhoram o perfil de endividamento e liberam capital para novos investimentos.

Pressão dos custos
Para controlar as despesas, a empresa ataca várias frentes: automação do sistema de ar condicionado, renegociação de aluguéis, otimização da publicidade, entre outras. Alguns CDs deverão ser compartilhados por todos os negócios: alimentar e não alimentar
Um dos fatores que mais impactaram nos indicadores de lucratividade do GPA Alimentar foi a aceleração dos custos. Nos nove primeiros meses do ano, o aumento do total de despesas operacionais foi de 12,6%. Celson Placido, do XP Investimentos, explica que parte dessa alta ocorre pelos investimentos na expansão orgânica e aumento de custos relacionados a tarifas públicas. De fato, a empresa afirma ter tido uma alta de 50% nas despesas com energia elétrica. Explica ainda que é complexo promover ajustes em todas as lojas nos meses subsequentes aos reajustes, mas que já está tomando medidas. Nas lojas do Extra que estão sendo reformuladas, por exemplo, as lâmpadas tradicionais são trocadas por LED. Há também a colocação de portas ou coberturas nos balcões refrigerados e automação do sistema de refrigeração de ar condicionado. Filiais que já contam com esse programa economizaram 25% no gasto com energia. Desde o final do segundo trimestre, a companhia tem renegociado aluguéis e otimizado custos com publicidade. Como consequência, a empresa aponta crescimento das despesas gerais e administrativas na divisão Multivarejo abaixo da inflação: 7,1%. Nos trimestres anteriores, a taxa ficava ao redor de 10%. Outra frente são melhorias operacionais nas lojas, revisão de processos e eficiências logísticas. A empresa inaugurou em Pernambuco um CD integrado, que atende os diferentes negócios. A ideia é ter, entre os 56 CDs da companhia, outras centrais que possam ser compartilhadas.

Receita e Investimentos
Embora o modelo de proximidade tenha sido o que mais cresceu, ele representa apenas 1% das vendas. Para ganhar escala serão necessárias mil lojas e infra-estrutura de abastecimento. Outro desafio é acertar a localização. Erro de 10% na inauguração de 100 lojas pode ser desastroso?
Apesar de a receita da divisão alimentar ter variado 2% abaixo da inflação média no 3º trimestre, a companhia acredita que é positivo o fato de ela ter ficado acima do indicador da Abras, cujo recuo foi de cerca de 3% real. Nos meses anteriores, a empresa estava abaixo. Já em nove meses, a queda no faturamento foi menor: 1,3%, descontando-se os efeitos inflacionários. Mas as bandeiras tiveram desempenhos distintos. A maior retração coube ao Extra, com 11% tanto nos supermercados quanto nos hiper. No Pão de Açúcar a retração foi de apenas 1,5%. E, na contramão, as bandeiras de proximidade e o Assaí apresentaram crescimentos reais de 37,8% e 14,8%, respectivamente. "O modelo multiformato nos permite trabalhar com segmentos que têm maior resiliência nesse momento e outros que têm menos. Por isso, observamos negócios crescendo excepcionalmente e outros, não", afirmou Ronaldo Iabrudi, presidente do GPA, durante a última teleconferência com analistas de mercado. Para evoluir em receita no médio prazo, a empresa tem investido principalmente em expansão. Até o final do terceiro trimestre, 67 lojas foram inauguradas (58 de proximidade, 4 Assaí, 4 Pão de Açúcar e 1 Extra Super). A expectativa é fechar este ano tendo aberto de 85 a 87 novas unidades (70 de proximidade, 10 a 12 Assaí e 5 Pão de Açúcar). O formato proximidade, foco da expansão, representa somente 1% das vendas da companhia. Segundo a empresa, para ganhar escala suficiente nesse modelo, é preciso alcançar mil lojas. E, para que isso aconteça, é necessário ter antes uma estrutura que possa crescer modularmente. A empresa investiu recentemente em um CD para atender a essas lojas, que pode ser ampliado em etapas, conforme o número de filiais for aumentando. Isso é importante porque ter um CD grande, para um número pequeno de unidades, gera custo alto. O GPA sabe ainda que a logística para operar esse tipo de loja é bem mais complexa. E, se ela não estiver bem resolvida, a consequência é a ruptura. Outro desafio é evitar enganos na localização das lojas. "Errar 2% ou 3% é normal, mas 10% quando se abre 100 lojas em 12 meses, não é possível", informou um executivo à SM. O GPA acredita que tem sido assertivo em suas decisões. Se as medidas surtirão efeito, o tempo dirá

O que acontece nas bandeiras
Assaí
O cash & carry teve alta real de 14,8% na receita líquida de janeiro a setembro deste ano. Assim como em outras empresas do segmento, a queda nas vendas aos transformadores tem sido compensada pelo aumento aos consumidores finais. O GPA não divulga a taxa, mas afirma que as vendas em mesmas lojas crescem dois dígitos. O forte aumento da receita elevou o Ebitda ajustado em 31%, o que permite à marca financiar seu próprio crescimento orgânico. Até setembro, foram abertas quatro lojas. No último trimestre, serão mais sete a oito. Desde 2011, as novas filiais são maiores para receber mercadorias direto do fornecedor. Segundo Belmiro Gomes, presidente do Assaí, isso reduz bastante as despesas logísticas.


Proximidade
Juntos, os Minimercado Extra e Minuto Pão de Açúcar cresceram real 37,8% nos primeiros nove meses de 2015. Durante teleconferência, Renato Giarola, diretor executivo de proximidade, lembrou que, neste ano, 12 unidades Minimercados Extra que atendiam público AA e AB foram convertidas em Minuto. Dentro do formato, existem diferentes posicionamentos de preços, que mudam conforme a concorrência e o perfil do shopper. Há unidades mais competitivas em preço, outras que cobram mais pela conveniência e assim por diante. "Os minimercados vêm tendo boa performance nas categorias prioritárias do formato – FLV, congelados, carnes, resfriado e padaria –, com crescimento de dois dígitos", afirma o executivo.

Bandeira Pão de Açúcar teve queda real de 1,5% em vendas, entre janeiro e setembro. Mas executivos afirmam que a marca está ganhando participação de mercado há 24 meses consecutivos. E a rede vem investindo em reformas, mix premium e mais serviços

Pão de Açúcar
O recuo da marca foi de 1,5% real de janeiro a setembro. Apesar disso, a empresa afirma estar ganhando market share há 24 meses consecutivos. Para que as vendas voltem a crescer acima da inflação, a empresa tem procurado focar um mix diferenciado, negociando, por exemplo, o lançamento de produtos premium nas lojas da marca. Esses itens são vendidos exclusivamente pela bandeira durante um período determinado. Acordos como esse já foram fechados, por exemplo, com as cervejas Corona e Miller. A rede passou a dar maior foco a serviços já consagrados, como atendentes de queijo e vinho. Algumas filiais ganharam tapiocaria e lojas exclusivas, como a da Maille, no Shopping JK Iguatemi. Também foram reformadas 38 lojas neste ano.


Extra Hiper e Super
Essas são as bandeiras que mais tiveram retração nos nove meses de 2015: queda real de 11% cada uma. Para José Lupoli Jr., consultor de varejo, a história é velha conhecida: os formatos sofrem com a mudança de hábito do consumidor, que migra dos hipermercados para o atacarejo e dos supermercados tradicionais para os de proximidade. Para recuperar vendas, a marca tem sido alvo de remodelações que incluem novo layout, maior agressividade de preços e inclusão de serviços ao consumidor, como balcão de atendimento em perecíveis. Até novembro, foram reformados 22 hipermercados e 27 supermercados. Segundo a empresa, as lojas onde as mudanças foram implementadas tiveram alta de 10 pontos percentuais nas vendas e aumento no fluxo de clientes.


Fonte: http://www.sm.com.br

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