terça-feira, 20 de agosto de 2024

A história de Ernest Shackleton e sua aplicação a Prevenção de Perdas.

 


Recentemente fiz um curso rápido disponibilizado pela Harvard com o título de Liderança Resiliente, o qual utiliza como base Ernest Shackleton, figura lendária na história da exploração polar que liderou uma expedição épica em 1914 a bordo do navio "Endurance" com o objetivo de atravessar a Antártida.

Na viagem eles enfrentaram imensos blocos de gelo que começaram a reduzir a velocidade da embarcação e em 20/01/1915, a 160 quilômetros da Antártica, o Endurance estava completamente parado.

A tripulação trabalhou por mais de 48h na retirada do gelo que impedia o barco de seguir viagem, eles não poderiam imaginar que ficariam presos por meses, o tempo ia passando, a temperatura parecia ser cada vez menor chegando a -30 °C.

Foi em 27/10/1915 que Shackleton ordenou o abandono total da embarcação e o Endurance afundou quase um mês depois.

O grupo seguiu então por terra e em improvisadas embarcações até a ilha mais próxima, enfrentando ainda, caminhadas com gelo até os joelhos e a alimentação cada vez mais escassa.

 

Em dezembro, após uma caminhada de 7 dias, chegaram ao hoje chamado de Patience Camp, novo acampamento, que na verdade era uma placa de gelo utilizada como abrigo, onde permaneceram por longos três meses. Esse foi o local onde os cães começaram a ser sacrificados, pois já não havia comida suficiente para todos.

 

Somente depois de quase 500 dias que a equipe de Shackleton pode chegar a terra firme e em 10/05/1916, Shackleton e outros cinco homens que o acompanharam finalizavam, na Geórgia do Sul, uma das mais perigosas viagens marítimas da história.

 

A tripulação chegou ao Porto de Stromness, em 20/05/1916, quase dois anos depois do Endurance deixar a Inglaterra.  A equipe completa desembarcou em Punta Arenas, no Chile, no dia 03/09/1916, sem registro de baixa.

 

A viagem é considerada uma das mais impressionantes histórias de sobrevivência e embora a expedição não tenha alcançado seu destino original, Shackleton se tornou exemplo notável de liderança e resiliência, abaixo pontos-chave da sua incrível jornada:

 

1. A Missão Audaciosa - Ele e sua tripulação partiram da Inglaterra com a missão de cruzar a Antártida, uma façanha nunca antes realizada e por isso com desafios desconhecidos, e para isso utilizaram o navio Endurance ,que foi projetado para resistir às condições extremas do gelo antártico.

2. O Desafio no Gelo - Durante a expedição, o Endurance ficou preso entre as geleiras, fazendo com que Shackleton e sua equipe enfrentassem temperaturas congelantes, ventos fortes e escuridão constante.

3. Liderança Exemplar -  Shackleton demonstrou coragem, otimismo e empatia, ele manteve a moral da tripulação alta, promovendo atividades sociais e mantendo todos ocupados.

4. A Incrível Jornada de Sobrevivência - Quando o Endurance afundou, a tripulação ficou presa no gelo à deriva, então Shackleton liderou-os em uma jornada épica de sobrevivência, atravessando o gelo em pequenos botes até chegarem à ilha Elephant.

5. Resgate Heróico - Shackleton e alguns homens navegaram mais de 1.300km em um pequeno barco até a Geórgia do Sul, ele conseguiu resgatar todos os membros da tripulação, sem perder nenhuma vida.

6. Legado Duradouro - Ernest Shackleton será sempre lembrado como um líder que priorizou a segurança e o bem-estar de sua equipe acima de tudo, e sua história inspira líderes até hoje, mostrando que a resiliência e a determinação podem superar até os desafios mais extremos.

 

Essa história oferece valiosos ensinamentos que podem ser aplicados à gestão de estoques e à prevenção de perdas na Logística. Vamos explorar como esses princípios podem ser adaptados:

 

1. Planejamento e Resiliência -  Shackleton planejou meticulosamente sua expedição, mas quando as coisas deram errado, ele se adaptou rapidamente, na logística, é essencial ter plano detalhado do que será realizado, deixando claro quem, quando e como cada tarefa será realizada, além disso não podemos esquecer o plano de contingência para situações imprevistas, como avarias, atrasos ou problemas com fornecedores, mas a adequação poderá ser constante, pois sempre há situações que fogem ao controle e nesse momento agir com ponderação na tomada de novas decisões transparecendo a equipe o controle necessário.

 

2. Comunicação Eficiente – Ele manteve sua equipe informada e motivada, mesmo nas circunstâncias mais difíceis o que nos mostra que a comunicação clara entre fornecedores, transportadoras e equipes internas é fundamental para gestão de estoques e controle das perdas. Aqui o destaque para o porque das coisas, é muito comum focarmos no o que e no como, mas o porque pode ser o diferencial em um plano de ações de curto, médio e longo prazo, pois ajuda a conscientizar cada membro da equipe sobre a importância da tarefa e do papel que ele desempenha no todo.

 

3. Gestão de Riscos – Shackleton avaliou constantemente os riscos e tomou decisões calculadas, em nossas operações logísticas, identificar riscos potenciais (como roubos, danos ou obsolescência) e implementar medidas preventivas são ações comuns, pois geraram impacto na experiência de nossos clientes e parceiros, bem como no resultado financeiro da empresa. Entender quais são os riscos, através do correto mapeamento e entendimento do processo é fundamental para sabermos onde estão os pontos de maior atenção e com isso direcionarmos os esforços em itens de maior preocupação dentro de uma relação de impacto e probabilidade.

 

4. Inventário Criterioso – Ele sabia exatamente o que tinha à disposição em termos de recursos, realizar inventários regulares (gerais, rotativos, cíclicos) ajuda ter visibilidade sobre a acurácia dos estoques e a evitar perdas por falta de controle ou excesso de estoque. É comum vermos empresas que apontam 10% ou mais como fatores de perdas, sendo assim, é evidente que o processo de inventário deve ser algo a ser revisado e validado, desde o preparo, sua execução e em especial a consolidação das informações. É importante lembrar que um inventário bem realizado permite visibilidade correte do nível de acurácia quantitativa e qualitativa dos estoques, bem como da ruptura operacional, dando oportunidade a equipe da loja de realizar reposições e como isso reduzir impacto da perda da venda ou da margem.

 

5. Foco na Equipe: – Priorizou a segurança e o bem-estar de sua equipe, isso significa que devemos cuidar dos colaboradores e treiná-los adequadamente, o que contribui para evitar erros e perdas. Este é um ponto fundamental, pois cada gestor deve conhecer bem sua equipe, entender suas necessidades e ouvir pontos que são preocupações de cada um e isso se da normalmente por conversas individuais, onde o individuo percebe que há atenção sobre suas opiniões e que é valorizado. Saber lidar com cada situação nunca é algo simples, aqui o nível de flexibilidade é fundamental para gestão de conflitos e de entendimentos, mas é com isso que o gestor consegue maior união com o grupo.

 

6. Flexibilidade e Adaptabilidade – Mudou os planos quando necessário, mantendo o objetivo final em mente, nosso aprendizado fica em sermos flexíveis diante de mudanças na demanda, rotas ou condições climáticas e isso se aplica nosso dia a dia, pois a área de prevenção de perdas lida com o estoque, com a operação e o mais importante, pessoas, sendo estas, a equipe, os clientes, prestadores de serviço e fornecedores, então estar preparados para situações pontuais é importante para que possamos passar por obstáculos.

 

7. Monitoramento Constante – Shackleton estava sempre atento às condições do ambiente, na logística ou operação de lojas, o uso de tecnologias como rastreamento de cargas ou vídeo analítico, entre outras, ajuda a monitorar o estoque e evitar perdas, podendo ainda utilizar análises preditivas ou prescritivas. É importante que as equipes conheçam bem os recursos, para que possam realmente gerar os melhores resultados, além disso, o uso de tecnologias pode permitir que as equipes sejam mais produtivas, em alguns casos, somente com tecnologia a equipe será realmente eficiente, pois o volume de informação ou de validações pode se tornar inviável de forma manual.

 

Em resumo, a história de Shackleton nos ensina a sermos resilientes, adaptáveis e focados na equipe, sendo o fator humano sempre o mais importante em qualquer tipo de projeto ou setor de atuação. Outro ponto percebido e de aprendizado é a atenção ao mapeamento e estratégia de uso de das ferramentas que temos ao redor e hoje nos deparamos com soluções que vão desde as mais antigas como CFTV, EAS, Controle de Acesso, Sistema de Detecção e Combate de Incêndio, vídeos analíticos até soluções de BI e a aplicação da inteligência artificial (AI). Sendo assim, o que percebemos é que esses princípios podem ser aplicados em qualquer setor e operação logística para garantir eficiência, reduzir perdas e superar desafios, maximizando assim os resultados e percepção de clientes e parceiros sobre a qualidade de nossa operação, consequentemente tornando a empresa cada vez mais lucrativa. 

 

Fonte:

Harvard - Liderança Resiliente

https://lessons.online.hbs.edu/lesson/resilient-leadership

Lições de liderança com a jornada endurance de Ernest Shackleton

https://cfa.org.br/liderando-em-tempos-de-crise/.


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