Recentemente fiz um curso rápido disponibilizado pela Harvard com o título de Liderança Resiliente, o qual utiliza como base Ernest Shackleton, figura lendária na história da exploração polar que liderou uma expedição épica em 1914 a bordo do navio "Endurance" com o objetivo de atravessar a Antártida.
Na viagem eles enfrentaram imensos
blocos de gelo que começaram a reduzir a velocidade da embarcação e em 20/01/1915,
a 160 quilômetros da Antártica, o Endurance estava completamente parado.
A tripulação trabalhou por mais
de 48h na retirada do gelo que impedia o barco de seguir viagem, eles não
poderiam imaginar que ficariam presos por meses, o tempo ia
passando, a temperatura parecia ser cada vez menor chegando a -30 °C.
Foi em 27/10/1915 que Shackleton
ordenou o abandono total da embarcação e o Endurance afundou quase um mês
depois.
O grupo seguiu então por terra e
em improvisadas embarcações até a ilha mais próxima, enfrentando ainda,
caminhadas com gelo até os joelhos e a alimentação cada vez mais escassa.
Em dezembro, após uma caminhada
de 7 dias, chegaram ao hoje chamado de Patience Camp, novo acampamento, que na
verdade era uma placa de gelo utilizada como abrigo, onde permaneceram por
longos três meses. Esse foi o local onde os cães começaram a ser sacrificados,
pois já não havia comida suficiente para todos.
Somente depois de quase 500 dias
que a equipe de Shackleton pode chegar a terra firme e em 10/05/1916, Shackleton
e outros cinco homens que o acompanharam finalizavam, na Geórgia do Sul, uma
das mais perigosas viagens marítimas da história.
A tripulação chegou ao Porto de
Stromness, em 20/05/1916, quase dois anos depois do Endurance deixar a
Inglaterra. A equipe completa
desembarcou em Punta Arenas, no Chile, no dia 03/09/1916, sem registro de
baixa.
A viagem é considerada uma das
mais impressionantes histórias de sobrevivência e embora a expedição não tenha
alcançado seu destino original, Shackleton se tornou exemplo notável de
liderança e resiliência, abaixo pontos-chave da sua incrível jornada:
1. A Missão Audaciosa - Ele e sua
tripulação partiram da Inglaterra com a missão de cruzar a Antártida, uma
façanha nunca antes realizada e por isso com desafios desconhecidos, e para
isso utilizaram o navio Endurance ,que foi projetado para resistir às condições
extremas do gelo antártico.
2. O Desafio no Gelo - Durante a
expedição, o Endurance ficou preso entre as geleiras, fazendo com que Shackleton
e sua equipe enfrentassem temperaturas congelantes, ventos fortes e escuridão
constante.
3. Liderança Exemplar - Shackleton demonstrou coragem, otimismo e
empatia, ele manteve a moral da tripulação alta, promovendo atividades sociais
e mantendo todos ocupados.
4. A Incrível Jornada de
Sobrevivência - Quando o Endurance afundou, a tripulação ficou presa no gelo à
deriva, então Shackleton liderou-os em uma jornada épica de sobrevivência,
atravessando o gelo em pequenos botes até chegarem à ilha Elephant.
5. Resgate Heróico - Shackleton e
alguns homens navegaram mais de 1.300km em um pequeno barco até a Geórgia do
Sul, ele conseguiu resgatar todos os membros da tripulação, sem perder nenhuma
vida.
6. Legado Duradouro - Ernest
Shackleton será sempre lembrado como um líder que priorizou a segurança e o
bem-estar de sua equipe acima de tudo, e sua história inspira líderes até hoje,
mostrando que a resiliência e a determinação podem superar até os desafios mais
extremos.
Essa história oferece valiosos ensinamentos
que podem ser aplicados à gestão de
estoques e à prevenção de perdas na Logística. Vamos explorar como esses
princípios podem ser adaptados:
1. Planejamento e Resiliência - Shackleton planejou meticulosamente sua
expedição, mas quando as coisas deram errado, ele se adaptou rapidamente, na
logística, é essencial ter plano detalhado do que será realizado, deixando
claro quem, quando e como cada tarefa será realizada, além disso não podemos
esquecer o plano de contingência para situações imprevistas, como avarias,
atrasos ou problemas com fornecedores, mas a adequação poderá ser constante,
pois sempre há situações que fogem ao controle e nesse momento agir com
ponderação na tomada de novas decisões transparecendo a equipe o controle
necessário.
2. Comunicação Eficiente – Ele manteve sua equipe informada e
motivada, mesmo nas circunstâncias mais difíceis o que nos mostra que a
comunicação clara entre fornecedores, transportadoras e equipes internas é
fundamental para gestão de estoques e controle das perdas. Aqui o destaque para
o porque das coisas, é muito comum focarmos no o que e no como, mas o porque
pode ser o diferencial em um plano de ações de curto, médio e longo prazo, pois
ajuda a conscientizar cada membro da equipe sobre a importância da tarefa e do
papel que ele desempenha no todo.
3. Gestão de Riscos – Shackleton avaliou constantemente os riscos e
tomou decisões calculadas, em nossas operações logísticas, identificar riscos
potenciais (como roubos, danos ou obsolescência) e implementar medidas
preventivas são ações comuns, pois geraram impacto na experiência de nossos
clientes e parceiros, bem como no resultado financeiro da empresa. Entender
quais são os riscos, através do correto mapeamento e entendimento do processo é
fundamental para sabermos onde estão os pontos de maior atenção e com isso
direcionarmos os esforços em itens de maior preocupação dentro de uma relação
de impacto e probabilidade.
4. Inventário Criterioso – Ele sabia exatamente o que tinha à
disposição em termos de recursos, realizar inventários regulares (gerais,
rotativos, cíclicos) ajuda ter visibilidade sobre a acurácia dos estoques e a
evitar perdas por falta de controle ou excesso de estoque. É comum vermos
empresas que apontam 10% ou mais como fatores de perdas, sendo assim, é
evidente que o processo de inventário deve ser algo a ser revisado e validado,
desde o preparo, sua execução e em especial a consolidação das informações. É
importante lembrar que um inventário bem realizado permite visibilidade correte
do nível de acurácia quantitativa e qualitativa dos estoques, bem como da
ruptura operacional, dando oportunidade a equipe da loja de realizar reposições
e como isso reduzir impacto da perda da venda ou da margem.
5. Foco na Equipe: – Priorizou a segurança e o bem-estar de sua
equipe, isso significa que devemos cuidar dos colaboradores e treiná-los
adequadamente, o que contribui para evitar erros e perdas. Este é um ponto
fundamental, pois cada gestor deve conhecer bem sua equipe, entender suas
necessidades e ouvir pontos que são preocupações de cada um e isso se da
normalmente por conversas individuais, onde o individuo percebe que há atenção
sobre suas opiniões e que é valorizado. Saber lidar com cada situação nunca é
algo simples, aqui o nível de flexibilidade é fundamental para gestão de
conflitos e de entendimentos, mas é com isso que o gestor consegue maior união
com o grupo.
6. Flexibilidade e Adaptabilidade – Mudou os planos quando necessário,
mantendo o objetivo final em mente, nosso aprendizado fica em sermos flexíveis
diante de mudanças na demanda, rotas ou condições climáticas e isso se aplica
nosso dia a dia, pois a área de prevenção de perdas lida com o estoque, com a
operação e o mais importante, pessoas, sendo estas, a equipe, os clientes,
prestadores de serviço e fornecedores, então estar preparados para situações
pontuais é importante para que possamos passar por obstáculos.
7. Monitoramento Constante – Shackleton estava sempre atento às
condições do ambiente, na logística ou operação de lojas, o uso de tecnologias
como rastreamento de cargas ou vídeo analítico, entre outras, ajuda a monitorar
o estoque e evitar perdas, podendo ainda utilizar análises preditivas ou
prescritivas. É importante que as equipes conheçam bem os recursos, para que
possam realmente gerar os melhores resultados, além disso, o uso de tecnologias
pode permitir que as equipes sejam mais produtivas, em alguns casos, somente
com tecnologia a equipe será realmente eficiente, pois o volume de informação
ou de validações pode se tornar inviável de forma manual.
Em resumo, a história de
Shackleton nos ensina a sermos resilientes, adaptáveis e focados na equipe, sendo
o fator humano sempre o mais importante em qualquer tipo de projeto ou setor de
atuação. Outro ponto percebido e de aprendizado é a atenção ao mapeamento e
estratégia de uso de das ferramentas que temos ao redor e hoje nos deparamos
com soluções que vão desde as mais antigas como CFTV, EAS, Controle de Acesso,
Sistema de Detecção e Combate de Incêndio, vídeos analíticos até soluções de BI
e a aplicação da inteligência artificial (AI). Sendo assim, o que percebemos é
que esses princípios podem ser aplicados em qualquer setor e operação logística
para garantir eficiência, reduzir perdas e superar desafios, maximizando assim
os resultados e percepção de clientes e parceiros sobre a qualidade de nossa
operação, consequentemente tornando a empresa cada vez mais lucrativa.
Fonte:
Harvard - Liderança Resiliente
https://lessons.online.hbs.edu/lesson/resilient-leadership
Lições de liderança com a jornada endurance de Ernest
Shackleton
https://cfa.org.br/liderando-em-tempos-de-crise/.
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