domingo, 4 de setembro de 2016

A má reputação do algodão egípcio

Os estilhaços do escândalo que abalou o negócio e a reputação da Welspun India Ltd., a maior produtora indiana de têxteis-lar, nomeadamente lençóis e toalhas, podem vir a atingir o prestígio do algodão egípcio.

A 19 de agosto, a Target Corp. informava que 750 mil lençóis da Welspun, supostamente de algodão egípcio e com um preço premium, foram feitos com outro tipo de algodão. Como resposta, a Target cortou a Welspun como fornecedor, privando de imediato a empresa de cerca de 90 milhões de dólares (aproximadamente 80,7 milhões de euros) em vendas anuais, ou cerca de 10% da sua receita total. Outros clientes da Welspun, incluindo o Wal-Mart Stores Inc., Bed Bath & Beyond Inc. e a J. C. Penney Co. estão também a fazer as suas próprias investigações.

A Welspun fez mea culpa, noticia a Bloomberg. «Houve uma falha da nossa parte», lamenta o diretor Rajesh Mandawewala. «O erro está do nosso lado, por isso temos de assumir a responsabilidade», acrescenta, sublinhando que o sucedido foi um problema de origem da fibra e não de qualidade do algodão.

Legalmente, o “algodão egípcio” significa exatamente o que diz. Não é necessariamente o melhor, o mais suave ou o mais forte. Há, apenas, a garantia de que é cultivado no Egito.

O Egito é, desde o século XIX, reconhecido pelo seu algodão de fibra longa ou extralonga, contudo, este algodão é responsável por apenas cerca de 2,5% do consumo mundial.

As fibras mais longas fazem fios mais fortes, mais suaves, e o selo de garantia “algodão egípcio” faz com que o produto pareça especial, como o couro marroquino ou o perfume francês.

Mas são as fibras longas, e não um atributo exclusivo do solo ou do clima egípcio, que fazem com que o algodão seja melhor.

Nem todo o algodão egípcio é de fibra longa e nem todo o algodão de fibra longa é produzido no Egito.

Na verdade, sublinham os analistas, os agricultores egípcios estão a diminuir a área cultivada dedicada a produzi-lo, porque a procura por fibras curtas e médias é maior.

No ano passado, a produção de algodão egípcio caiu mais de 50% em resposta às políticas do governo, com quase toda a área cultivada perdida anteriormente dedicada a culturas de fibra longa.

Atualmente, os EUA já ultrapassam o Egito como maior produtor mundial de algodão de fibra longa, conhecido localmente como Pima, com uma quota de exportação reservada, inclusivamente, para o Egito.

De acordo com um relatório de março do Foreign Agricultural Service do Departamento de Agricultura dos EUA, o algodão egípcio de fibra extralonga «não é adequado ao fabrico da maioria dos tecidos produzidos no Egito, uma vez que grande parte dos fios produzidos requer algodão de fibra curta e média. Mesmo aqueles que fabricam fios com algodão de fibra extralonga escolhem a variedade Pima como alternativa melhor, devido à sua maior qualidade».

Desde 1954, os produtores de algodão norte-americanos oferecem também a sua própria garantia de qualidade, utilizando a tipologia Supima para indicar não só a proveniência, mas que se trata de algodão de fibra extralonga.

Fonte:http://www.portugaltextil.com/

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