“Perda” engloba tudo o que para no lixo, inclusive por falhas de logística e de conhecimento técnico
Por Gabriel Ronan
Alimentos são descartados na capital mineira; cada família brasileira desperdiça cerca de 350 g de comida a cada dia — Foto: FRED MAGNO
Aos 32 anos, Heron Gonçalves tem sua rotina dividida entre a venda dos brigadeiros caseiros que produz e o cuidado com a filha, de apenas 2 anos. Desempregado há quatro anos, o homem vive o desafio diário de levar o sustento para casa, mas nem sempre é possível. Ele é um dos 19 milhões de brasileiros que passam fome, número que cresceu 84% entre 2018 e 2020, conforme o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.
Quando conversou com a reportagem, Heron só tinha arroz para comer em casa. O cenário de insegurança alimentar grave enfrentado por ele se mistura com uma realidade de desperdício de alimentos: cada brasileiro joga fora, em média, 60 kg de comida todos os anos – considerando toda a cadeia alimentar, da colheita até a mesa. Um desequilíbrio que cobra um preço ainda mais caro em um panorama de total instabilidade econômica do país, com inflação de dois dígitos, salários estagnados e inadimplência e endividamento das famílias em alta.
Relatório feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que cada família brasileira desperdiça cerca de 350 g de comida a cada dia.
Responsável pelo estudo, o pesquisador Gustavo Porpino, da Embrapa, defende uma reformulação da governança da cadeia alimentar para evitar perdas e garantir uma maior oferta de comida.
Primeiramente, ele difere, conceitualmente, as perdas e os desperdícios. Segundo ele, se entende como “perda” tudo aquilo que acaba no lixo por problemas de logística, falta de conhecimento técnico ou outros fatores desde a colheita até o varejo. Um exemplo disso são as frutas que sofrem danos dentro dos caminhões por mau acondicionamento ou por estradas ruins. Já o desperdício é o que, efetivamente, uma família joga fora por não comer todo o almoço cozinhado, por exemplo.
“No Brasil, nós temos problemas ao longo de toda a cadeia produtiva, do campo à mesa. É um grande desafio, mas, ao mesmo tempo, entendo que o Brasil tem grande capacidade técnica. Se a gente organizar melhor, o Brasil pode enfrentar esse problema global mais rapidamente. É preciso ter um visão sistêmica”, explica Porpino.
“Essas relações comerciais também implicam a falta de ações de alguns órgãos da cadeia produtiva. A gente fala muito de inovação para prolongar a vida útil dos alimentos, mas, às vezes, intervenções bem simples são tão eficazes quanto. Isso passa pela organização das frutas e das verduras também nos sacolões”, aponta Gustavo Porpino, da Embrapa.
Fonte: https://www.otempo.com.br
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